Mercedes-Benz LAK 1418 4X4 Militar

História e Desenvolvimento. 
Há mais de um século, os engenheiros alemães Gottlieb Daimler e Carl Benz construiriam ao mesmo tempo e período, os primeiros automóveis motorizados funcionais do mundo. O pioneirismo desses homens faria com que colecionassem outras conquistas, como a construção do primeiro ônibus, do primeiro caminhão com motor a gasolina e do primeiro caminhão a diesel do mundo. Em abril de 1900 nasceria um novo motor, que seria denominado como "Daimler-Mercedes", grupo propulsor este que impulsionaria a produção em série dos primeiros carros comerciais por ser simples, eficaz e de baixo custo. Durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa teria grande participação no esforço de guerra alemão, produzindo desde veículos componentes diversos e motores de aviação. Após o término do conflito, a economia alemã seria negativamente afetada pelas altas taxas de inflação e desemprego que impactariam na renda da população em geral. Estes fatores resultariam em baixas vendas, especialmente em relação aos bens de luxo, como automóveis de passageiros, acabaram por pesar fortemente sobre a indústria automóvel alemã. Apenas marcas fortes produzidas por empresas com solidez financeira seriam capazes de sobreviver a este cenário caótico, e muitas delas viram-se forçadas a participar de cooperativas ou processos de fusão.  Ao longo dos anos seguintes a produção cresceria timidamente, buscando uma solução comum as empresas Daimler-Motoren-Gesellschaft DMG e a Benz & Cie decidiriam se unir em um esforço conjunto de administração e cooperação tecnológica, com este compromisso estabelecido entre seus acionistas, devendo perdurar até o ano de 2000. Padronizariam o design, a produção, as compras, as vendas e a publicidade – comercializando os seus modelos de automóveis em conjunto, embora ainda mantendo suas respectivas marcas originais. Porém logo em seguida assumiriam uma identidade industrial e comercial única, nascendo assim a Daimler-Benz AG. Seu logotipo a icônica estrela de três pontas, seria desenhada por Gottlieb Daimler, em que cada ponta representava o ar, a terra e o mar mostrando que os motores desenvolvidos e produzidos por esta empresa se adaptavam a estes três modais de transporte. Em meados da década de 1930 as vendas da empresa seriam fortemente impulsionadas por demandas governamentais destinadas ao ambicioso programa de rearmamento alemão. Seu portfólio original de automóveis e caminhões seria ampliando passando a empresa a produzir motores aeronáuticos, barcos, aeronaves e diversos componentes mecânicos, se tornado um fornecedor estratégico da máquina de guerra da Alemanha Nazista.    

Após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, suas plantas industriais seriam reconstruídas (pois foram alvo de incessantes bombardeios nas últimas fases da guerra) em cooperação com ingleses e norte-americanos, em um esforço para a recuperação econômica do país. O processo de reconstrução estrutural do país que fora maciçamente destruído, demandaria um grande mercado de veículos utilitários de todos os portes, e neste contexto a empresa vislumbraria uma oportunidade única de mercado. Assim a Daimler-Benz AG concentraria seus recursos e esforços no segmento de pequeno e médio porte, fazendo uso de projeto desenvolvidos originalmente durante a década de 1930, que iriam obter grande sucesso comercial não só na Alemanha, mas também em toda a Europa, resultando em uma grande econômico para a montadora. Porém somente em meados da década de 1950, a montadora lançaria um novo produto desenvolvido especialmente para aquela realidade de mercado, nascia assim o modelo Mercedes Benz MB L-319. Este novo caminhão de pequeno porte apresentava um desenho de cabine avançada, projeto este que apresentava grandes vantagens, pois permitia a alocação de um maior espaço para a carga util , sem a necessidade de se modificar o comprimento total do chassi ou a distância entre eixos.  O êxito alcançado no mercado com este modelo denominado LP ou “Pulman” originaria uma família de caminhões com as várias versões, se destacando os modelos LP-315, LP-321, LP-326, LP-329 e LP-331.  Paralelamente neste mesmo período sua diretoria começarias a esboçar os primeiros planos para o estabelecimento de um programa de expansão internacional, começando assim a estudar novos potenciais mercados, e entre estes o mercado sul-americano, passaria a ser considerado como fundamental nesta estratégia. O Brasil seria definido como o ponto inicial deste processo planejando se o estabelecimento de uma linha de produção de caminhões e futuramente chassis para ônibus. Seu mercado estava em amplo crescimento com as vendas capitaneadas por Alfred Jurzykowski,  um cidadão polonês distribuidor da marca no país, que tinha grande sucesso na comercialização de veículos importados sob a forma de CKD (Completely Knock-Down).  Este empresário em 1951 criaria um importante contato entre a montadora e o governo do presidente Getúlio Vargas, que acabaria resultando na celebração de um convenio com o governo brasileiro para a fabricação local de caminhões e ônibus com motorização diesel. Dois anos depois, em outubro de 1953, seria fundada a Mercedes-Benz do Brasil S.A e na sequência seria dado início a construção de uma planta industrial na cidade São Bernardo do Campo (SP). A planta de São Bernardo foi inaugurada em 28 de setembro de 1956, sendo produzido o caminhão médio MB L-312, vulgo “Torpedo”, considerado o primeiro veículo comercial a diesel brasileiro. Logo em seguida na Alemanha a montadora apresentava ao mercado o lançamento da linha MB 1111, que trazia como novidade o projeto de cabine semiavançada com um novo design visual contemplando faróis redondos.   
A evolução natural levaria ao modelo L-1113 que vinha equipado com o novo motor diesel Mercedes Benz OM-352LA com injeção direta de 5,6 litros de cubagem, 6 cilindros em linha com potência de 130 cv. Este sistema (com o combustível sendo injetado diretamente na câmara de combustível) proporcionava um consumo bastante moderado, sendo este um diferencial competitivo no mercado civil, pois apresentava ainda mais vantagens perante os concorrentes como boa acessibilidade aos componentes mecânicos sob o capo. Este novo modelo logo conquistaria no mercado europeu a preferência dos consumidores, ajudando a consolidar a imagem da Mercedes Benz no segmento de caminhões,  com uma marca sinônimo de confiança, estabilidade robustez e baixo custo de manutenção. A produção do Mercedes-Benz L-1111 teria início no Brasil em 1964, e como ocorrido em seu país de origem se tornaria um sucesso comercial, atingindo vendas superiores a trinta e nove mil caminhões em seis anos de produção. O novo Mercedes Benz L-1111 ou “Onze Onze” como era popularmente chamado, seria o grande precursor do modelo na configuração de cabine semiavançada da futura série “AGL”, que anos mais tarde faria muito sucesso com a linha L-1113 “Onze Treze”.   Os dois modelos iniciais desta linha se tornariam os veículos mais representativos na trajetória da marca no Brasil, introduzindo entre outras inovações, o sistema de suspensão por feixe semielíptico transversal secundado por amortecedores telescópicos. Estas inovações garantiram a Mercedes Bens no Brasil um ganho significativo de mercado no Brasil, porém no final da primeira metade da década de 1980 mostrava a necessidade de modernizar este projeto, tendo em vista as expectativas de lançamentos da concorrência para este segmento. Definidos os parâmetros do projeto a equipe da Mercedes-Benz, apresentaria o projeto final em 1986 com sua entrada em produção sendo iniciada logo após a empresa descontinuar toda a linha MB L-1113, MB LA-1314 e MB LA-1317 e MB AGL Cara-Preta em fins de 1987. O principal destaque desta nova linha de caminhões pequenos e médios era o Mercedes-Benz MB LAK-1418 que foi o primeiro representante de tração total da gama HPN da Mercedes-Benz, e a propulsão do caminhão estava a cargo do motor OM-366 A de 5,86 litros e 184 cv, ligado a uma transmissão MB G-3/60-5/7,5 de cinco marchas, ou como opção uma G-3/55-5/8,5, de seis marchas e redução total de 8,47:1. A caixa de transferência de duas velocidades proporcionava 64% a mais de torque na marcha reduzida. 

O novo modelo Mercedes-Benz MB LAK-1418/51 pesava 5.260 kg em ordem de marcha e podia lidar com 8.240 kg de carga útil, incluindo um possível implemento agregado, e assim resultando em um peso bruto total (PBT) de 13.500 kg. Em julho de 1989, como previsto, seriam lançados os modelos médios e médio-pesados, com novos motores e cabines (chassis, eixos e transmissões permaneceriam os mesmos da geraçao anterior). Embora a concorrência viesse caminhando para modelos com cabine basculante sobre o motor (como os Ford Cargo e Volkswagen na mesma categoria), ainda assim a Mercedes-Benz do Brasil S/A optaria por manter em linha as cabines semi-avançadas (agora com capô e pra lamas em peça única, basculando o capo para frente), pois suas pesquisas de mercado, indicavam que esta decisao ainda representava um latente desejo do mercado interno e de muitos países em desenvolvimento para onde seu mercado de exportação era centralizado. Assim, seria decidido que os novos caminhões seriam inicialmente fabricados somente no Brasil, para distribuição para o resto do mundo, exceto para os mercados da Europa e Estados Unidos. A maior parte dos modelos ganharia maior potência, torque e capacidade de carga, sendo quase todos renomeados; alguns exemplos: MB L-1114, MB L-1118, MB L-1314, MB L-1514, MB L-1518, respectivamente mudados para o MB L-1214, MB L-1218, MB L-1414, MB L-1614, MB L-1618, com motores entre 136 cv e 184 cv de potência. Em maio de 1990, seguindo as mesmas diretrizes, a montadora renovaria sua linha dos caminhões pesados, oscilando faixa de 35 a 45 toneladas de peso bruto total (PBT), envolvendo os novos modelos MB 1625, MB 1630, MB 1935, MB 1941 e MB 2325, nas versões L, LK, LB e LS. Junto a este programa, seria introduzida a nova série MB 400 com motores de dez e doze litros, com potências entre 252 cv  e 408 cv.  Em agosto de 1991 a Mercedes-Benz do Brasil S/A inauguraria seu novo Centro de Desenvolvimento Tecnológico junto à planta de São Bernardo do Campo; congregando quatrocentos engenheiros, representando o maior centro existente fora da Alemanha, e o único do país exclusivamente dedicado a veículos comerciais.   
Além do natural aprimoramento da linha de produtos, que incluía a oferta de freios anti blocantes do tipo ABS como item opcional em alguns modelos, a montadora realizaria um importante lançamento naquele ano. Pressionada pela concorrência e contradizendo seu próprio discurso em defesa das cabines recuadas, seria lançada na edição da feira nacional VII Transpo, sua nova linha média e semi-pesada com cabine sobre o motor, retornando a uma tradição abandonada mais de vinte anos antes. Passava assim a dispor da primeira cabine basculante produzida pela Mercedes Bens no Brasil no país, apresentando o mesmo desing daquelas utilizadas pelos caminhões leves e pelos demais médios e pesados da marca. Comercializada a partir do ano seguinte, esta nova gama de caminhões era composta de seis versões (MB 1214, MB 1218, MB 1414, MB 1418, MB 1714 e MB 1718), além das quatro adaptadas para basculante. Com eles, pela primeira vez a Mercedes-Benz do Brasil S/A deixava de utilizar na nomenclatura dos caminhões um prefixo que identificasse o conceito do veículo (pela tradição, no caso deveriam ser utilizadas as letras LP). A mecânica era a mesma dos modelos MB L e MB LK dos quais derivavam; eixos e suspensões dianteiras, no entanto, foram reforçados e os chassis encurtados entre 60 e 97 cm no entre-eixo, facilitando aplicações nos centros urbanos. Em um tempo em que a montadora reinava praticamente sozinha no segmento de caminhões com tração integral 4×4, o MB LAK-1418 encontrou moradia nas Forças Armadas Brasileiras e nas Brigadas de Incêndio do Departamento de Aviação Civil - DAC presente nos aeroportos no país. O mercado militar sul-americano representaria um promissor nicho de mercado, sendo celebrados diversos contratos de exportação, entre estes os de maiores expressões sendo celebrado junto aos Exército Chileno e Uruguaio. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras
A exitosa relação entre a Mercedes Benz do Brasil S/A e o Exército Brasileiro, tem início em maio de 1959, quando seria celebrado o primeiro contrato de compra de caminhões militarizados, dispostos nos modelos MB LP-32 e LP-331 com tração 4X2. A estes se seguiriam mais encomendas, englobando também pedidos da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira, com mais de mil veículos sendo entregues nos anos seguintes. Apesar de atender satisfatoriamente as demandas a eles direcionadas, a família de caminhões MB LP-321 e LP-331 apresentava certas limitações operacionais no emprego militar, que eram claramente determinadas por sua concepção já obsoleta de projeto. Cientes deste fato o comando do Exército Brasileiro voltaria sua atenção para a nova linha de caminhões comerciais MB L-1111 e  MB L-1112,  que fora lançada no mercado nacional no ano de 1964, e colecionava além do sucesso comercial, inúmeros elogios de seus clientes e operadores, principalmente quanto ao seu atributo de robustez. Desta maneira o comando da Força Terrestre encomendaria a montadora o desenvolvimento de um protótipo militar do modelo MB LA-1111 com tração integral 4X4.  Este caminhão seria submetido a um extensivo programa de testes de campo, e seus promissores resultados abririam campo para a celebração de contratos de fornecimento em larga escala, com os primeiros sendo entregues em fevereiro do ano de 1966. Além deste modelo MB LA-1111, o Ministério do Exército viria a adquirir em 1967, pelo menos mais uma centena de caminhões da versão MB L-1113 para o emprego em tarefas de transporte geral de carga e tropas. O avançar da evolução da linha de caminhões civis da Mercedes Benz, também seria acompanhado por novos contratos de fornecimento as Forças Armadas Brasileiras. Desta vez seriam adquiridos em grande volume para o Exército Brasileiro, caminhões dispostos nas versões MB L-1514, MB L-1614 e MB L-1620 para o emprego em missões de transporte de tropas, transporte de cargas, socorro, guincho e veículo oficina. Neste mesmo período lotes dos modelos MB L-1111, MB L-1113 e MB L-1114 passariam a ser adquiridos pela Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil (para uso pelo Corpo de Fuzileiros Navais). Assim desta maneira, ao longo dos anos seguintes os caminhões produzidos por esta montadora se tornariam o esteio de toda frota de transporte militar brasileira, estabelecendo uma verdadeira hegemonia. 

No início da década de 1990 grande parte da frota de caminhões utilitários ou militarizados em serviço no Exército Brasileiro e também nas demais Forças Armadas Brasileiras estava composta por veículos produzidos pela Mercedes-Benz do Brasil S/A (sendo considerado neste momento o principal fornecedor nacional de veículos militares), dispostos em sua grande maioria nas versões MB LA, LAK e LAS 1111, 1113, 1114, 1213, 2213 e outros. Esta frota apesar de apresentar excelentes índices de disponibilidade, já começava a apresentar sinais de cansaço devido ao intenso e largo tempo de uso, anteciparia demandas referentes a um grande processo de renovação da frota. Assim vislumbrando uma grande oportunidade mercadológica, a direção da montadora decidiria por investir recursos próprios em uma nova linha de caminhões militarizados, derivado de seu novo modelo comercial MB LAK-1418F. O primeiro protótipo deste veículo seria apresentado ao comando do Exército Brasileiro em fevereiro de 1991, e seria o primeiro caminhão a ser equipado como novo sistema de tração total da gama HPN produzido pela Mercedes Benz no Brasil. Seu conjunto mecânico era o mesmo da versão comercial e proporcionava um excelente perfil operacional com uma capacidade de transporte de até 8.240 kg de carga útil com um peso bruto total de 13.500 kg, e estas características técnicas proporcionavam ao veículo um desempenho muito superior aos antigos caminhões militarizados desta mesma categoria produzidos pela montadora, e ainda em uso nas Forças Armadas Brasileiras até então. Apesar de visualmente o modelo militarizado ser mais similar a linha comercial, que seus modelos anteriores militarizados, o novo Mercedes-Benz LAK 1418 receberia um projeto de carroceria militar desenvolvido e produzido pela empresa carioca SCL Montagens Navais e Engenharia Ltda. Esta companhia seria responsável também na linha de montagem da Mercedes Benz no Brasil, pela instalação do kit militar, envolvendo para-choques reforçados, guincho mecânico na frente e atrás, grades proteção de lentes para os faróis e lanternas o gancho para reboque e carroceria de aço coberta de lona.   
Estes novos caminhões apresentavam tração 4X4, com suspensão elevada e reforçada, pneus especiais e dispunha ainda debloqueio nos dois diferenciais, o que o tornava praticamente impossível esse modelo ficar atolado num brejo. Estas modificações tornavam o caminhão adequado a operação para qualquer terreno, atendendo assim as especificações demandadas pela Força Terrestre. Em meados do ano de 1992 a montadora disponibilizaria as três Forças Armadas Brasileiras, os primeiros protótipos a fim de serem submetidos a um exaustivo programa de ensaios e testes de campo. Este processo resultaria no pleito por parte dos interessados de modificações e melhorias básicas no projeto, que seriam atendidas logo em seguida. Com base nestes ajustes cada versão acabaria por ser homologada por cada organização militar, gerando assim os contratos de produção em larga escala para o Exército Brasileiro e lotes menores para a Força Aérea Brasileira e Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), sendo todos os veículos configurados na versão básica para transporte de tropas e cargas. Um segundo contrato de aquisição seria celebrado logo em seguida para o Exército Brasileiro, sendo agora envolvidos os modelos MB LAK 1418, MB L-1418 e MB LA-1418 nas configurações de carroceria de transporte de tropas e carga, cisterna de água potável de 7.000 litros, tanque de combustível de 7.000 litros e veículo oficina para reparos gerais.  Algumas destas viaturas estavam equipadas com um suporte removível para instalação de uma metralhadora MAG de calibre 12,7 mm no lado esquerdo frontal na carroceria.  Analisando a concepção deste novo modelo, podemos avaliar que o conceito de cabine “bicuda”, tende a ser mais adequado para operação militar, pois este desing apresenta menor complexidade no processo de rebatimento do capô do que em comparação aos modelos anteriores que demandavam o rebatimento total da cabine, apresentando com vantagem além de proporcionar mais agilidade caso um operador tenha que interromper um reparo emergencial para se abrigar na cabine em casos emergenciais em caso de combate. Dos modelos envolvidos neste novo contrato, a versão de veículo oficina para reparos gerais (VTE Oficina), era o que apresentava o menor índice de militarização, principalmente por se tratar de caminhão para emprego mais urbano, que operaria em vias mais regulares.   

As entregas seriam encerradas no ano de 1994, e permitiram principalmente ao Exército Brasileiro a retirar da ativa os primeiros lotes de caminhões MB L-1111, L1113 e L-1114 que estavam em serviço desde meados da década de 1970.  Os caminhões Mercedes Benz LAK 1418 4X4 tiveram intenso emprego durante a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH), capitaneada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta operação além do ininterrupto do comando brasileiro da missão (fato sem precedentes em outras operações de manutenção da paz), ocorreria o o maior desdobramento de tropas nacionais a um país estrangeiro desde a Segunda Guerra Mundial. Além de representar a participação mais longa do Brasil em seu histórico de contribuição para operações de manutenção da paz. O contingente militar brasileiro seria dividido em três unidades militares: um Batalhão de Infantaria (Brabat), um grupamento operativo de fuzileiros navais (Bramar) e uma companhia de engenharia militar (Braengcoy).  Ao longo de treze anos, vinte e seis contingentes, totalizando mais de trinta e sete mil soldados brasileiros serviriam no Haiti, e para garantir o apoio logístico, tanto o Exército Brasileiro, quanto o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, enviariam dezenas caminhões MB LAK 1418 4X4, que atuariam nesta região durante todo período da operação internacional, sendo pintados nas cores padrão da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2002 a frota de caminhões  MB LAK 1418 4X4 completaria dez anos de excelentes serviços a  força terrestre, e apesar de ainda poderem operar por no mínimo mais vinte anos, buscaria se reduzir o nível de elevação dos custos de manutenção , principalmente em decorrência do  envelhecimento natural da frota, seria decidido pelo  comando do Exército Brasileiro iniciar uma série estudos visando desenvolver um programa de substituição desta frota a médio prazo evitando assim que a maior parte dos caminhões  atingisse vinte anos de emprego. Seu substituto natural seria o Mercedes-Benz 1720A-2 militarizado, porém desta vez a montadora passaria a dividir este nicho de mercado com os novos caminhões Volkswagen Worker produzidos pela MAN Latin America S/A, quebrando assim uma homogenia de mais de cinquenta anos da Mercedes-Benz do Brasil no fornecimento em massa de caminhões militares para o Exército Brasileiro.  
Este processo de substituição passaria a ocorrer no início do ano de 2009. quando passariam a ser entregues os primeiros militarizados Volkswagen Worker 15.210 4x4 e Mercedes Benz Atego 1725 4x4, principalmente na versão de Viaturas de Transporte não Especializado VTNE. Assim cada vez mais veículos dos modelos LAK 1418, 1414, 1318, 1618, 1620, 1622 e 1613 seriam desativados e recolhidos para alienação de venda em leiloes. No entanto este processo não representaria o fim da carreira dos MB LAK 1418 VTNE, pois em 2009 seriam selecionados cento e vinte viaturas que se encontravam em melhor estado de conservação, a fim de serem submetidos ao "Projeto de Reoperacionalização de Viatura".  Este programa teria início no ano seguinte, envolvendo além de uma completa revisão a revitalização do motor a diesel Mercedes Benz OM-366A, caixa de câmbio MB G-3/60-5/7,5 e sistema elétrico. Este programa seria conduzido pelo Exército Brasileiro internamente junto ao Arsenal de Guerra de São Paulo (AGP) e possibilitaria o aumento da vida útil das viaturas em pelo menos 15 anos, além da economia de recursos financeiros a serem aplicados em longo prazo. Os resultados seriam excelentes com muitos destes caminhões se mantendo em atividade até os dias atuais, em 2015 vintes d destes veículos seriam doados ao Paraguai através de acordos celebrados em programa de cooperação militar firmado entre os dois países. Em 2016 mais três caminhões deste lote modernizado seriam doados a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, para o emprego junto ao Batalhão de Choque - BP, recebendo um interessante padrão de camuflagem. Atualmente além da pequena frota de caminhões MB LAK 1418 VTNE, restam em serviço vários caminhões sendo empregados como Viaturas de Transporte Especializado (VTE) com destaque para as versões de oficina e cisterna. A Força Aérea Brasileira ainda mante em operação pelo menos dez viaturas configuradas na versão bombeiro, operando em diversas bases áreas espalhadas pelo país. 

Em Escala.
Para representarmos o Mercedes-Benz LAK 1418 4X4 “Oficina de Reparos Gerais”, fizemos uso do modelo em die cast produzido pela Axio para a Editora Altaya (coleção Caminhões de Outros Tempos) na escala 1/43. Como o modelo original representa o MB L-1614 civil, tivemos de proceder uma série de alterações em scrath para se representar a versão militarizada. A primeira etapa se baseou na redução do chassi, alteração do baú de carga, configurando o interior com bancadas de oficina e caixas de ferramentas. Procedemos ainda a inclusão de portas e janelas laterais, escada de acesso, toldos retrateis nos dois lados e holofote. Por fim fizemos a aplicação de decais confeccionados pela decais Eletric Products pertencentes ao set “Exército Brasileiro 1983 - 2010".

O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Brasileiro em todos seus veículos auxiliares de serviço  classificados como  Viaturas de Transporte Especializado (VTE), dispostas nas versões de  cisterna, frigorifico, guincho e oficina. Já os demais caminhões classificados como Viaturas de Transporte não Especializado (VTNE), receberiam um padrao de camuflagem tático em dois tons.

Bibliografia : 

- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos – MB 1418 , editora Altaya
- Mercedes-Benz LAK 1418 4×4 - http://www.planobrazil.com
- Mercedes-Benz www.lexicarbrasil.com.br/mercedes-benz/

M-4 e M4-A1 Sherman Late

História e Desenvolvimento.
A Europa, na segunda metade da década de 1930, presenciou um forte programa de rearmamento da Alemanha, que apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes (assinado após o término da Primeira Guerra Mundial) avançava a largos passos. O governo alemão que era regido partido nacional socialista (Partido Nazista) e liderado pelo chanceler Adolf Hitler, começava a esboçar preocupantes ambições em termos de expansão territorial. O plano secreto de fortalecimento militar alemão, estava focado desenvolvimento de novos conceitos e doutrinas militares, em sincronia com o uso de novas tecnologias em equipamentos e armas destinadas ao combate terrestre com apoio aéreo (que viria a ser denominado posteriormente como Blitzkrieg). Este conceito apresentava como um dos principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, caracterizada pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Os novos tanques alemães foram criados para serem superiores aos seus pares disponíveis na época. Do outro lado do atlântico, estas ameaça não passava desapercebida aos olhos do Exército Americano (US Army), levando nesta mesma época a criação de um programa de estudos visando o desenvolvimento de blindados que pudessem a rivalizar com os novos carros de combate alemães, italianos e japoneses. Esta iniciativa previa a criação de uma variada gama de veículos, desde blindados sobre rodas, carros de combate leve e médios, visando assim proporcionar uma melhoria de sua capacidade ofensiva em confrontos terrestres, que neste período tinha como estio de sua força de carros de combate, o modelo M3 Stuart. Apesar de estarem em números satisfatórios este modelo despertava dúvidas quanto a sua efetividade contra estas novas ameaças, principalmente por dispor de um canhao de 37 mm como arma principal, calibre este inadequado em tese para enfrentar os carros blindados dos potenciais inimigos até então.

Este cenário se mostraria real com o eclodir da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939, quando o conceito da Blitzkrieg foi colocado em prática contra a Polônia e durante a campanha da França, quando os novos carros blindados alemães dos modelos Panzer III e Panzer IV obtiveram esmagadoras vitorias em enfrentamentos com os melhores carros de combate franceses e ingleses disponíveis. Estes acontecimentos aumentariam o nível de preocupação de comando do Exército Americano (US Army) quanto ao tempo de implementação para o desenvolvimento do novo carro de combate. O programa em curso apresentava promissores perspectivas, porém ainda se encontrava no estágio final de desenvolvimento e não estava pronto para ser produzido em larga escala. Para atender o cronograma emergencial definido, optou-se por concentrar recursos no carro de combate M-3 Lee que já se encontrava em produção desde o início do ano de 1940. Apesar desta plataforma atender a demanda básica no porte do canhão de 75 mm, o carro apresentava características negativas, como perfil elevado, baixa relação de peso e potência e pequeno deslocamento lateral do canhão (devido a arma estar instalada no chassi). Apesar destas ressalvas havia a necessidade emergencial de suprir as forças britânicas com carros de combate, levando ao fornecimento de centenas destes carros que passaram a ser empregados em combates no deserto africano nas primeiras fases da guerra. Em ação o M-3 apresentou um pífio desempenho, fato este que repetiria quando empregado também pelo Exército Americano em confronto contra seus adversários alemães. A conclusão óbvia era a que este projeto deveria ser imediatamente substituído. Visando aproveitar ao máximo o ferramental e linhas de montagem em uso, a criação de um novo carro de combate herdava grande parte do design estrutural do M-3, agregando um novo redesenho de casco e inclusão de uma torre giratória 360º para o canhão de 75mm, nascia assim o modelo M-4 Sherman.
Em outubro de 1941 o protótipo do novo carro denominado como Medium Tank M-4 deixava a linha de produção da fábrica da Baldwin Locomotive Co. na cidade da Filadélfia.  Como citado anteriormente este novo modelo herdava o mesmo chassi e a eficiente suspensão VVSS (Vertical Volute Spring Suspension) de seu antecessor. Como novidade principal passa a contar com uma torre giratória com acionamento elétrico ou hidráulico, armada com um canhão de 75mm, sua motorização consistia em um motor radial Wright Continental R-975, a gasolina, com peso bruto de 30 ton. O projeto com um todo era pautado pela simplicidade, visando assim facilitar a produção em massa (com uma previsão de entrega de 2.000 unidades mês) no intuito de suportar a crescente demanda dos aliados.  A primeira versão a entrar em produção foi o M-4A1, em fevereiro de 1942, seu chassi era uma única peça fundida e composta por bordas arredondadas, estava equipado com um motor Wright Continental R-975 Whirlwind a gasolina. A produção em larga escala seria iniciada no mês seguinte, logo seria a vez M4A2 entrar na linha de montagem, sendo originalmente destinado ao Corpo de Fuzileiros Americano (USMC), pois estava dotado com o motor a diesel GM Twin 6-71 que empregava o mesmo combustível dos navios americanos facilitando assim a logística. A terceira versão M-4A3 equipada com um motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 cv foi adotada pelo exército em virtude de sua maior potência. A versão original M-4 só estaria disponível em julho de 1942 e apesar de visualmente ser idêntico ao M-4A1, deferia deste por não ter o chassi composto em uma peça só e sim por chapas retas soldadas, e as primeiras unidades produzidas apresentavam um sistema de blindagem frontal tripartida unida com parafusos como uma flange (herança direta do antigo M-3 Lee).

Seu batismo de fogo ocorreu em 23 de outubro de 1942, quando o 8º Exército Britânico iniciou sua segunda ofensiva na Batalha de El Alamein, na Tunísia no norte da África. Em condições reais o M-4 Sherman se mostrou muito superior ao M-3 Lee/Grant quando operado pelos experientes tripulantes britânicos, conseguido enfrentar com êxito os Panzers alemães. Porém inicialmente este resultado não se repetiria quando empregados pelo exército americano, pois durante a batalha de Kasserine em fevereiro de 1943 a falta de experiencia das tripulações americanas da 1º Divisão Blindada resultariam em pesadas perdas. A estreia no teatro de operações europeu ocorreu durante a operação Husky, a invasão da Sicília (Itália), quando os M-4A1 foram empregados ao lado dos carros de combate leve M-3 Stuart, onde foram bastante castigados pelos canhoes antitanque dos italianos e alemães. Em 11 de julho de 1943, os Sherman chegaram a apoiar a infantaria em Piano Luco. O transcorrer dos embates na italia foram difíceis resultando na perda de centenas de carros, com a 3º Brigada da 1º Divisão Blindada adentrou a cidade de Roma. Tiveram ainda destacada participação durante a Operação Overload, o desembarque na Normandia, onde durante todo o restante da guerra foram decisivos no enfrentamento dos Panzers alemães, mesmo sofrendo pesadas perdas contra os sofisticados Tiger e Panthers. No front oriental cerca de 2.000 Shermans foram fornecidos aos soviéticos nos termos do Leand & Lease Act, onde tiveram participação constante em todos os combates até o advento do recebimento em larga escala dos tanques T-34. Já no teatro de operações do Pacífico os M-4 Sherman foram a principal arma blindada do Corpo de Fuzileiros Navais, sendo empregados com a instalação de sistemas de lança chamas.
No pós-guerra seriam empregados ainda na Guerra da Coréia, sendo deslocados os M-4 Sherman que estavam baseados no Japão, atuando em conjunto com os novos M-26 Pershing e M-46 Patton. Os M-4 Sherman começaram a ser desativados no Exército Americano a partir de 1957, milhares de unidades foram considerados como excedentes de guerra, e passarão a ser fornecidos a nações amigas dentro dos termos dos programas do MAP (Military Assistance Program). Muitos países incluindo Argentina e Israel adquiriram centenas de unidades de países europeus onde foram abandonados pelas forças americanas e compradas destes governos a peso de sucata. A todos quarenta e sete países chegaram a operar as versões da família M-4 Sherman, pelo menos até fins do século vinte. Entre 1942 e 1945 seriam fabricadas 49.234 unidades, das quais 6.748 da versão M-4 Early Production , sendo produzidos nas plantas fabris da Baldwin Locomotiva Works, Pressed Steel Car Company, American Locomotive Co, Pullman-Standard Car Company e Detroit Tank Arsenal.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano estava preocupado com uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornou claro. Se a Alemanha pudesse obter bases nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo. Além disso, as conquistas japonesas no Pacifico tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na guerra.  Além deste aspecto, geograficamente o pais era estratégico para o  estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.

Os primeiros carros blindados a serem recebidos foram os M-3 Stuart e M-3 Lee a partir de 1942, apesar de constar nos contratos de fornecimento, as entregas dos modernos M-4 Sherman só ocorreria no primeiro semestre de 1945, muito em função do atendimento prioritário para o envio ao front europeu. O primeiro lote foi recebido no Brasil no porto do Rio de Janeiro em julho deste ano, totalizava cinquenta e três carros, divididos entre as versões M-4, M-4 Composite Hull. Tão logo foram desembarcados e destinados ao 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC), aquartelado no antigo Derby Club na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Entre todos os carros blindados recebidos nos termos do Leand & Lease Act, sem dúvida, o equipamento mais moderno recebido pelo Exército Brasileiro foi o M-4 Sherman, sendo o primeiro país latino-americano a receber estes equipamentos, tornado o Brasil o país mais bem equipado da região. Esse advento veio a trazer avanços até então inéditos pois eram superiores aos carros de combate recebidos anteriormente, pois apesar de contarem como mesmo canhão de 75 mm dos M-3 Lee, os M-4 Sherman dispunham de um sistema de giro-estabilizador (somente no uso vertical), sendo um dos primeiros carros de combate a dispor deste dispositivo, possuíam ainda um sistema de partida elétrica. Também em termos de munição novidades foram incorporados como a M61 Armour Piercing Capped - APC, M-72 Armour Piercing (AP) e M-84 High Explosive (HE) que apresentavam cadência de disparo de 20 tiros por minuto, que traziam os Batalhões de Carros de Combate ao estado da arte na época.
Os carros incorporados ao Exército Brasileiro, estavam dispostos na seguinte ordem, dezesseis veículos matriculados EB11-347, 348, 350, 351, 352, 353, 393, 394, 396, 400 ,403, 404, 405, 408, 409 e 412 em agosto de 1945 , dezessete veículos com as matriculas EB11-360, 414, 415, 416, 417, 418, 419, 420, 421, 422, 423, 424, 425, 426 ,427, 428 e 429 em outubro do mesmo ano, e por fim um último lote de vinte carros com as matriculas EB11-341, 342, 344, 345, 346, 349, 354, 355, 356, 395, 397, 398, 399, 401, 402, 406, 407, 411 e 413, incorporados em fins de outubro do mesmo ano. A organização do 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC), era composta por uma Companhia de Comando, equipada com dois CCM M-4 Sherman, três Companhias de Carros de Combate Médio, equipadas com dezessete CC M-4 Sherman cada uma; uma Companhia de Carros de Combate Leve, equipadas com dezessete CCL M-3A1 Stuart; e uma Companhia de Serviços, equipada com quarenta e sete veículos utilitários. Além do armamento básico constituído pelo canhão de 75 mm, duas metralhadoras M-1919 calibre .30 e uma metralhadora M-2 calibre .50, estes primeiros carros vieram equipado com um morteiro de 2 polegadas acoplado na torre para disparo de projéteis fumígenos, bem como uma submetralhadora Thompson M-1928A1 calibre .45 para uso do chefe do carro.

Dentre os cinquenta e tres carros recebidos, dentre os carros da versão M-4, estima-se que pelo menos dez veículos eram da versão intermediária de produção “Mid Production”, este modelo se caracterizava visualmente por possuir a blindagem frontal tripartida que era fixada no chassis com parafusos em uma flange. Destes carros alguns estavam equipados, equipados com um morteiro de 2 polegadas acoplado na torre para o disparo de projeteis fumigemos e estavam armados com uma submetralhadora Thompson M-1928A1. Apesar de não haver dados oficiais sobre as versões, estimativa existe a comprovação fotográfica de pelo menos três unidades os EB 11-341, 11-342 e 11-410 eram da versão Early Production. Todos estes veículos vieram sem uso, sendo todos os acessórios, desde uma simples mola, embrulhados um a um com papel encerado, apesar dos carros virem acompanhados de completos e detalhados manuais de uso, estes estavam em inglês, e a falta de proficiência dos oficiais brasileira neste idioma dificultou muito a correta implantação do modelo no pais. Durante sua carreira os M-4 Sherman foram operados também pela Escola de Motomecanização, 2º Batalhão de Carros de Combate (BCC), 6º Regimento de Cavalaria Blindada (RecMec), 9º Regimento de Cavalaria Blindado (RCC) e Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Apesar de algumas dificuldades técnicas enfrentadas na operação dos motores radiais Wright Continental R-975 Whirlwind a gasolina, geradores auxiliares e caixas reguladoras devido a problemas no fluxo de peças de reposição, a frota de M-4 Sherman brasileiros sempre apresentam bons indicies e disponibilidade sendo este patamar atingido graças a soluções “caseiras” das equipes de manutenção que empregaram desde componentes dos motores das aeronaves Stearman A-76 desativados da Força Aérea Brasileira. até componentes canibalizados dos antigos M-3 Lee.
O avançar dos anos cobrou o preço em termos de problemas no fluxo de peças de reposição, como geradores auxiliares e caixas reguladoras e mais notadamente dos motores radiais Wright Continental R-975 Whirlwind a gasolina. Estes problemas sempre foram enfrentados com maestria, sendo solucionados com soluções caseiras, que envolviam uso de componentes dos motores das aeronaves Stearman A-76 desativados da Força Aérea Brasileira, até a canibalização de carros de combate do modelo M-3 Lee. Com o advento do recebimento dos carros de combate médios M-41 Walker Buldog a partir de meados da década de 1960, o Exército Brasileiro iniciou o processo de desativação dos M4 Sherman ainda operacionais, sendo os últimos retirados do serviço ativo somente em 1978. Alguns estudos elaborados pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) de São Paulo, em conjunto com Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Blindados (CPDB), buscavam modernizar e assim estender a vida útil destes carros de combate, seja em processo de remotorização ou transformação em veículo de serviço, porém tais iniciativas não chegaram a avançar além das fases de protótipo

Em Escala.
Para representarmos o M-4 Sherman Mid Production  "EB-11 413" empregamos o novo kit da Asuka Modeks na escala 1/35. Para melhor detalhamento complementamos o modelo com acessórios em resina da Eletric Products. Para se representar a versão empregada no Exército Brasileiro não é necessário proceder nenhuma modificação. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals &  Books.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Americano quando do recebimento dos carros de combate no Brasil em 1945, tendo como alteração somente as marcações nacionais, salientando que o escudo dos veículos segue o padrão empregado nos veículos que estavam em território nacional durante a guerra, sendo substituídos posteriormente em 1946 pelo escudo com o Cruzeiro do Sul empregado no teatro de operações da Itália durante a Segunda Guerra Mundial.


Bibliografia :
- M-4 Sherman - Wikipédia  http://pt.wikipedia.org/wiki/M4_Sherman
- M-4 Sherman no Brasil , por Helio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Junior 
- Blindados no Brasil Volume I – Expedito Carlos Stephani Bastos

Marcel Dassault Mirage IIIEBR F-103E

História e Desenvolvimento.
Em meados da década de 1950 as tensões provocadas pela Guerra Fria entre os blocos ocidental e oriental, levariam as nações de ambos os lados a buscarem soluções de defesa aérea contra possíveis ataques convencionais ou nucleares. O constante desenvolvimento de bombardeiros estratégicos (inclusive supersônicos), gerariam a necessidade da criação de uma geração caças interceptadores de alta performance, com o objetivo assim de negarem os espaços aéreos nacionais a possíveis aeronaves agressoras de alta velocidade.  A política apregoada pelo Governo Francês neste período, se baseava-se primordialmente na busca pela independência na produção de itens de defesa estratégicos, visando assim não depender tecnologicamente ou politicamente de outras nações. Neste contexto uma das maiores ameaças vigentes eram representadas pela existência de uma eficiente frota de bombardeiros supersônicos soviéticos, que podiam sem aviso prévio desferir golpes mortais contra as instalações estratégicas de defesa do país.  Assim visando buscar uma solução para defesa a esta possível ameaça, em 1953 o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) decidiu encomendar um estudo para o desenvolvimento de um interceptador supersônico leve de alta performance. Esta nova aeronave, como parâmetro básico deveria possuir a capacidade de operação e qualquer tempo (all-weather), potencial de ascensão a 18.000 metros em seis minutos e atingir a velocidade de Mach 1.3 (1592.56 km/h) em voo horizontal. Com base nestas especificações, prontamente a empresa Marcel Dassault Aviation apresentaria ao Ministério de Defesa Francês, um projeto denominado como "MD.550 Mystère-Delta", um pequeno e ágil caça, impulsionado por dois motores turbo reatores ingleses Armstrong Siddeley MD30R Viper, equipados com pós-combustores, cada um com um empuxo de 9.61kN (2,160lbf) tendo como complemento um motor-foguete de combustível líquido que provinha um empuxo adicional de 14.7kN. (3.300lbf), o que lhe permitiria um grande potencial de ascensão.

O primeiro protótipo conceitual, matriculado como "MD.550-01" equipado com os motores Armstrong Siddeley MD30R Viper, mas sem pós-combustores, efetuou seu primeiro voo no dia de 25 de junho de 1955, apresentando um perfil de vinte minutos de missão, em um teto de 3.000 pés. Este desempenho seria considerado abaixo do mínimo exigido, atingindo no máximo a velocidade de Mach 0.95 (1.170 km/h), muito em função da aeronave não estar equipado com os sistemas de pós combustão e motor foguete suplementar. De volta a prancheta de projetos, melhorias seriam implementadas, levando agora a aeronave a atingir a velocidade máxima de Mach 1.3 (1.592,56 km/h) sem o uso do motor-foguete e Mach 1.6 (1.960 km/h) com o uso deste sistema. Apesar de alcançar os parâmetros previstos em termos de desempenho, o modelo acabaria sendo descartado, pois suas pequenas dimensões limitavam sua capacidade de transporte de misseis ar ar. Visando se manter nesta concorrência, a Marcel Dassault Aviation, resolveria alterar o projeto original, gerando um novo modelo de aeronave, que passava agora a apresentar um peso bruto 30% superior ao seu antecessor com refinamentos de aerodinâmica. Esta nova aeronave estava equipada agora com um motor produzido nacionalmente, o Snecma Atar 101G1, dotado de pós combustor.  Este novo projeto receberia a designação oficial de Dassault Mirage III, com seu primeiro protótipo sendo apresentado no dia 15 de novembro de 1956, realizando seu primeiro voo dois dias depois. Esta célula seria submetida a um intensivo programa de ensaios em voo, que ao término deste processo resultaria em sua homologação pré-operacional. Neste momento seria celebrado um primeiro acordo entre o governo francês e o fabricante para a produção de dez células pré-série da versão designada como Mirage IIIA, para fins de avaliação final. Este novo modelo diferia da aeronave anterior por apresentar fuselagem e área alar de maiores dimensões, além de passar a ser equipada com o novo e mais potente motor SNECMA Atar 09B.
No início do ano de 1957, as primeiras células do Dassault Mirage IIIA pré-série passariam a ser entregues ao comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air). Estas aeronaves seriam então empregadas em um completo e abrangente programa de ensaios em voo e testes operacionais. Deste processo emergiram uma variada gama de melhorias e refinamentos no projeto original, resultando assim finalmente na primeira versão de produção em série que receberia a designação de Marcel Dassault Mirage IIIC, com seu nome de batismo em referência a uma citação de seu projetista chefe “O avião será como uma visão no deserto: o inimigo o verá… mas jamais o tocará”. Este novo este novo caça interceptador era visualmente similar a versão de pré-produção, se distinguindo apenas pela presença de um exaustor do motor mais longo do que o aplicado nas primeiras células produzidas. O primeiro contrato de produção em série para a Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) englobava noventa e cinco células, que começariam a ser entregues a partir de meados do ano de 1961. Durante os anos seguinte esta aeronave se tornaria o esteio da arma de caça e interceptação francês, logrando ainda neste mesmo tempo os primeiros contratos de exportação. Em 1959, o comando da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) solicitou a Marcel Dassault Aviation o desenvolvimento de uma versão destinada a tarefas de treinamento e conversão operacional, visando assim facilitar a transição operacional para esta aeronave de alta performance. Este projeto seria baseado no modelo pré-série Mirage IIIA, com esta nova variante recebendo uma fuselagem alongada, possibilitando assim alocar um segundo assento para o instrutor de voo, levando também neste processo a retirada do canhão de 20 mm. Apesar de não contar com sistema de radar, esta nova aeronave ainda conservava a opção de poder carregar armas ar solo e misseis ar-ar guiados por infravermelho como os norte-americanos Raytheon AIM-9B Sidewinder. Seu primeiro voo ocorreria no dia 20 de outubro de 1959, levando logo em seguida a contratação para a produção de mais cinco células de pré-produção. Ao todo seriam adquiridas quarenta e três células das versões de treinamento e conversão agora denominadas como Mirage IIIB-1 e Mirage IIIB-2.

O emprego operacional dos primeiros Dassault Mirage IIIC clarificariam a versatilidade da aeronave, o que lhe permitia poder portar uma variada gama de armamentos ar-terra como bombas de queda livre e foguetes não guiados. E sua excelente performance neste pacote de emprego motivaria o fabricante a estudar o desenvolvimento de uma variante multimissão, com o modelo original sendo submetido a inúmeras modificações estruturais dentre as quais se destacam o alongamento de sua fuselagem, a realocação das entradas de ar do motor que foram recuadas em relação à cabina de pilotagem, o enflechamento das asas em delta ficou estabelecido em 56° 35′, foram colocados quatro pontos de fixação sob as asas, onde poderiam ser instalados tanques adicionais de combustível ou armamentos, assim como a aeronave foi equipada com um reator SNECMA Atar 09C, de 6.185 Kg de empuxo com pós-combustão. Seus equipamentos eletrônicos incluíam um radar navegação Doppler Marconi, sistemas de RWR, radar ar terra Thomson-CSF Cyrano II, com capacidade de operar nos modos de busca, seguimento, interceptação ar-ar, ar-terra e mapeamento do solo. Quanto à sua configuração de armamentos, a aeronave foi equipada com dois canhões de cano simples DEFA 552, de 30mm, que lhe proporcionavam uma cadência de tiro de 1.200 a 1.400 projéteis por minuto, além de um míssil Matra R530, equipado com guiagem infravermelha, alocado na estação central da fuselagem da aeronave, passava ainda a contar com sistemas passivos de defesa como lançadores de chaff/flare. O primeiro protótipo da nova versão designada como Mirage IIIE efetuou o seu voo inaugural em 05 de abril de 1961 e a primeira aeronave de série foi entregue em 14 de janeiro de 1964, sendo imediatamente entregue à da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air), que fez uma encomenda inicial de cento e oitenta células, para serem utilizadas como aeronave de múltiplas funções, incluindo o ataque nuclear tático. Ao longo dos anos seguintes novos contratos seriam celebrados, totalizando quatrocentas e dez unidades, entre elas setenta aeronaves na versão reconhecimento Mirage IIIR/RD de que seriam operados até fins da década de 1990. Com o extraordinário sucesso alcançado, o Dassault Mirage IIIE começou a ser pretendido por muitos países, fato que levou algumas nações a adquirirem a autorização para a sua fabricação sob licença, dentre as quais se destacaram: África do Sul, Austrália, Israel e Suíça.
 A versão biposto do Dassault Mirage IIIE seria designada como Mirage IIID e mantém quase todas as características do monoposto, menos o radar Cyrano II, devido ao afinamento de seu “nariz”, não obstante, ter mantido os dois canhões de 30 mm para treinamento e emprego operacional. A enorme robustez e polivalência da aeronave propiciou o desenvolvimento de outras versões, incluindo algumas de reconhecimento e outras de ataque ao solo. Algumas variantes fabricadas sob licença pela Bélgica e denominadas de Dassault Mirage 5, são desprovidas de radar. Na década de 1980, surgiu a última variante atualizada da família, com a utilização do mesmo tipo de célula, que ficou conhecida como Dassault Mirage 50, equipada com o motor Atar 09K. Os Mirage IIIE foram exaustivamente provados em combate, com grande destaque para a sua utilização, em 1967, por Israel na Guerra dos Seis Dias contra os Países Árabes. Já no conflito entre a Índia e o Paquistão, ocorrido em 1971, os pilotos paquistaneses conseguiram importantes vitórias utilizando os Mirage IIIEP nos sangrentos combates realizados contra os aviões hindus. Mais recentemente, na Guerra das Falklands - Malvinas em 1982, os pilotos argentinos empregaram os Mirages IIIEA contra os ingleses com destacado sucesso, tendo em vista as inóspitas condições de sua utilização. Finalmente, a África do Sul foi o quarto país a utilizar o Mirage III nos recentes conflitos contra os guerrilheiros baseados na Namíbia, ocasião que obteve grandes resultados nos ataques. Inúmeras atualizações foram acrescentadas à frota de Mirage IIIE produzida e ainda em uso em diversos países, como a introdução de canards, novos radares e sistemas de navegação mais atualizados, o que propiciará a sua utilização além do ano 2000 na maioria das Forças Aéreas que empregam este magnífico avião, que teve cerca de mil quatrocentas e dez células produzidas nas variantes Mirage III, 5 e Mirage 50.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Em fins do ano de 1964, os três principais esquadrões de linha de frente da Força Aérea Brasileira, estavam equipados com os caças ingleses Gloster F-8 Meteor, que apesar de serem modelos relativamente defasados em relação as aeronaves de nova geração, se encontravam disponíveis em números suficientes na frota para o atendimento das demandas nacionais. No entanto em abril do ano seguinte, o fabricante a Gloster Aircraft Company, divulgaria um boletim informativo, que restringiria em muito o perfil operacional destas aeronaves inglesas, com esta medida sendo embasada na provável incidência de problemas relacionados desgaste estrutural. Apesar de serem aplicadas soluções paliativas indicadas pelo fabricante, logo seriam detectadas em diversas células graves fissuras nas longarinas das asas, condenando estas aeronaves a operação. Esta ocorrência se repetiria dramaticamente nos meses que se seguiram, convertendo em pouco tempo a outrora aviação de caça brasileira em uma simples sombra do que era no começo da década. Neste mesmo momento o Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciaria estudos visando a formação de um sistema de controle do espaço aéreo, este processo iria culminar na criação do SISDACTA (Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego). A implementação deste ousado programa demandava o estabelecimento de um braço armado destinado as tarefas de interceptação, levando assim a necessidade da aquisição e implementação de um novo vetor de caça e ataque. Consultas seriam realizadas junto ao Departamento de Estado (DoD) do governo norte-americano visando a possível aquisição de um pequeno lote de aeronaves multifuncionais, com a escolha aspiracional recaindo sobre os potentes McDonnell Douglas F-4 Phantom II, opção esta que seria prontamente negada sob a alegação que tal aquisição afetaria o balanço do poder aéreo na América do Sul. A opção alternativa seria baseada na oferta de pelo menos dozes células do caça bombardeiro Northrop F-5A e F-5B Freedom Fighter, porém análises iniciais indicariam que a performance deste modelo não atenderia as demandas operacionais demandadas pelo braço armado do SISDACTA (Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego), levando assim a recusa desta proposta.

Com este cenario pautado, o Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciaria tratativas junto a vários países europeus, que possuíam neste momento uma moderna e pujante indústria aeronáutica de defesa. Uma concorrência internacional seria deflagrada, com várias propostas sendo apresentadas, um primeiro filtro seria estabelecido, com os critérios de avaliação, apontando para a seleção de um interceptador de alto desempenho, que deveria operar na defesa área da Capital Federal no centro oeste e particular na região sudeste do país. Estes parâmetros resultariam na pré-seleção de quatro aeronaves, listando o caça multifuncional sueco Saab Draken, o interceptador britânico English Electric Lightning e o também o caça multifuncional francês Marcel Dassault Mirage IIIE. Inicialmente a decisão passaria a tender para a escolha do concorrente inglês, com está movimento sendo influenciado pela necessidade de se oferecer contrapartidas política e econômicas em referência ao financiamento concedido por este país para a construção da Ponte Rio Niterói. Porém logo sem seguida seria celebrado pelo Ministério da Marinha do Brasil e o estaleiro inglês Vosper Thornycroft um grande contrato para a construção das fragatas da classe Niterói, atendendo então a demanda de contrapartidas. Este movimento traria ao processo de seleção do novo interceptador o critério de escolha técnica. Em 1967, dois oficiais da Força Aérea Brasileira – o Tenente-Coronel Aviador Lauro Ney Menezes e o Major Aviador Ozires Silva – foram enviados pelo Ministério da Aeronáutica à França, para avaliar o Mirage III e os estabelecimentos industriais da Dassault. Na ocasião, o Ten.-Cel. Menezes voaria num Mirage IIIB, a uma velocidade de Mach 2, tornando-se, assim, o primeiro piloto de caça brasileiro a romper a velocidade do som e o primeiro a voar no caça francês. Como a escolha do avião fazia parte de um grande projeto que englobava a detecção e o controle do tráfego aéreo, foi criada no Ministério da Aeronáutica, em 1969, uma Comissão denominada de CEPAI (Comissão de Estudos do Projeto da Aeronave de Interceptação), que tinha a finalidade de selecionar as aeronaves para a missão de defesa aérea, previsão logística, cronograma da entrega dos aviões, necessidades operacionais e outras soluções, como a decisão da construção de uma nova base aérea, que deveria ficar próxima à capital do País, com a finalidade de sediar a nova aeronave supersônica.
Após estudos detalhados e análise das viabilidades, a CEPAI (Comissão de Estudos do Projeto da Aeronave de Interceptação), decidiu que a aeronave mais adequada para a Força Aérea Brasileira, naquele momento, seria o jato francês Dassault Mirage IIIE, cuja variante mais antiga Mirage IIIC havia obtido grande sucesso na Guerra dos Seis Dias, ocorrida em 1967, envolvendo Israel e os Países Árabes. Desta maneira em 12 de maio de 1970 seria assinado com o fabricante francês um contrato para inicial para a aquisição de doze células da versão monoplace e quatro da versão biplace, sendo todas as unidades novas de fábrica, que receberiam a designação do fabricante de Mirage IIIEBR e IIIDBR (F-103E e F-103D). Paralelamente ao processo de compra, seria construída na cidade de Anápolis em Goiás, uma base aérea para a operação específica do novo caça, sendo nesta criada a 1º Ala de Defesa Aérea (1º ALADA), que viria em complemento a Base Aérea de Santa Cruz criavam um escudo de defesa para as principais aéreas industriais centros econômicos e administrativos do pais. O contrato de compra do Dassault Mirage IIIE previa o treinamento de um grupo de pilotos e de técnicos brasileiros, que teriam a incumbência de implantar e operar as novas e sofisticadas aeronaves, assim como os seus sensores e armamentos. A primeira aeronave, já ostentando as cores e as estrelas da Força Aérea Brasileira, realizou o seu primeiro voo em 06 de março de 1972, na cidade francesa de Bordeaux. Dentro do cronograma estabelecido, em 23 de maio de 1972, embarcam para a França um grupo de oito experientes pilotos de caça brasileiros, que iniciariam a fase de treinamento na nova aeronave, na Base Aérea de Dijon. Os pilotos, que já possuíam mais de 1.000 h de voo de experiência em caças a jato, teriam a responsabilidade de receber, operar e transmitir a doutrina de utilização da nova aeronave aos outros pilotos a serem classificados na 1ª ALADA. Sob a chefia do Coronel-Aviador Antônio Henrique Alves dos Santos, que seria o comandante da nova Unidade, os seguintes oficiais faziam parte desse seleto grupo: Tenentes-Coronéis-Aviadores Jorge Frederico Bins, Ivan Moacir da Frota, os Majores-Aviadores Ronald Eduardo Jaeckel, Ivan Von Trompowsky Douat Taulois, Lúcio Starling de Carvalho, Thomas Anthony Blower e o Capitão-Aviador José Isaías Vilaça. Esses oficiais ficaram conhecidos carinhosamente como os “Dijon’s Boys” pelos atuais pilotos do Mirage IIIE, como uma forma de reconhecimento e de respeito pela abnegação e pela competência que nortearam a implantação da aeronave no Brasil.

A primeira aeronave Dassault Mirage IIIE chegou à cidade de Anápolis em 01 de outubro de 1972, sendo transportada pelo Lockheed Hércules C-130E FAB 2456, do 1º Grupo de Transporte. Em 08 de outubro, chega a segunda aeronave e, já no dia 16 do mesmo mês, é iniciada a montagem da primeira aeronave, por técnicos brasileiros e franceses, no hangar do Esquadrão de Suprimento e Manutenção da 1ª ALADA (Ala de Defesa Aérea). A entrega das aeronaves prosseguiu segundo o cronograma estabelecido, sendo que a última aeronave foi recebida em maio de 1973 e logo colocada em condições de voo, completando a frota de dezesseis aviões. Os Mirages IIIEBR foram designados na Força Aérea Brasileira como F-103E e foram matriculados de FAB 4910 a FAB 4922. Já os Mirage IIIDBR foram designados como F-103D e receberam as matrículas de FAB 4900 a FAB 4903. O início da operação dos Mirage no Brasil ocorreu em 27 de março de 1973, com a realização do primeiro voo de um F-103 em Anápolis, que foi realizado pelo piloto de provas da Marcel Dassault, Sr. Pierre Varraut, pilotando o F-103E FAB 4910. Este voo marcou o ingresso da Força Aérea Brasileira na era supersônica. O voo oficial, por sua vez, ocorreu em 06 de abril de 1972, quando uma esquadrilha constituída pelos F-103D FAB 4900/01 e pelos F-103E FAB 4910/12/13/14 surgiu sobre a capital do País, evento que foi assistido por todos os brasilienses e pelo Presidente da República desde o Palácio do Planalto. Finalmente, em 20 de abril de 1972, oito F-103E Mirages se deslocam para Santa Cruz – RJ, onde participam, pela primeira vez, das solenidades do Dia da Aviação de Caça, causando excelente impressão a todos os presentes. A introdução deste modelo na Força Aérea Brasileira, proporcionou um grande salto não só em termos de tecnologia por se tratar do primeiro vetor supersônico, mas também em termos de doutrina operacional, criando no pais o processo para o desenvolvimento das técnicas de combate empregando o binômio "míssil & avião”, com a adoção do míssil ar ar Matra 530, sendo este primeiro artefato de seu tipo a entrar em operação no Brasil. Nos primeiros anos de seu emprego, os segredos de sua operação, assim como as peculiaridades de sua manutenção foram plenamente dominados e alcançado o rendimento máximo da aeronave em suas atribuições de defender o espaço aéreo brasileiro. No final da década de 1970, atendendo à nova organização operacional, a Unidade passou por um processo de evolução estrutural, quando, em 19 de abril de 1979, pela Portaria nº 069/GM3, a 1ª ALADA é desativada, sendo criada em sua substituição, a Base Aérea de Anápolis – BAAN, que teria a incumbência de sediar e de apoiar o 1º Grupo de Defesa Aérea – 1º GDA, que havia sido criado em 11 de abril de 1979, pelo Decreto nº 004 e seria o responsável pelo guarnecimento e pela operação dos F-103E/D Mirage III.
Levando se em conta o significado da introdução de um jato de alto desempenho numa força que iria operar um tipo desta categoria pela primeira vez, é totalmente compreensível que a frota de caças Dassault Mirage IIIE/D brasileira viesse a sofrer perdas de aeronaves em acidentes. Este atrito operacional levaria a necessidade de recomplementamento da frota original, mediante a aquisição inicial de quatro células usadas oriundas dos estoques da Força Aérea Francesa (Armée de l'Air) no ano de 1980. Durante seu período de operação, os Dassault F-103 Mirage III realizariam milhares de interceptações reais, porém em apenas duas ocasiões puderam exercer o papel de defesa aérea, com a primeira ocorrendo durante a Guerra das Falklands Malvinas, quando em 09 de abril de 1982 um Ilyushin II-62 cubano, que se dirigia a Buenos Aires e tentou cruzar nosso espaço aéreo sem autorização. Após ser interceptado, o Ilyushin foi obrigado a pousar no Aeroporto Internacional de Brasília, onde passou pelas medidas de controle de solo, previstas na regulamentação de defesa aérea. Assim, estava concluída a primeira missão de interceptação real, realizada com absoluto sucesso pelos Mirages Brasileiros. O outro episódio ocorreria durante o sequestro de um avião da VASP, neste caso os F-103E acompanharam o 737-300 até seu pouso em Goiânia. Em função de se buscar uma melhoria de desempenho e capacidade de emprego, em 1989 as aeronaves remanescentes das versões F-103E e F-103D seriam submetidas a um programa de modernização junto ao Parque de Material de Aeronáutica, que além de atualização básica de avionica sofreram a adoção de canards frontais e novo esquema de pintura.

Em Escala.
Para representarmos o Dassault Mirage IIIEBR F-103E “FAB 4914”, utilizamos o kit do fabricante Italeri (Nº 2674) na escala 1/48, sendo este um modelo de fácil montagem e se permite montar a versão brasileira sem a necessidade de nenhuma modificação. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais presentes no set 48/09.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura em metal natural com marcações de alta visibilidade em vermelho vivo, aplicado quando do recebimento das células originais entre 1972 e 1973. Este padrão se manteve até 1981, quando após uma grande revisão em âmbito de parque as aeronaves passaram a ostentar um esquema em cinza azulado escuro.



Bibliografia :

Revista ASAS nº 03 Mirage III a Saga do Delta no Brasil , por Claudio Lucchesi
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015  - Jackson Flores Jr
Dassault Mirage III - Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Dassault_Mirage_III